Viver e morrer em Cristo
No Coração do Carmelo (11/24)
O mês de novembro é propício para refletirmos sobre a morte e a vida, sobre a provisoriedade da existência terrena e a eternidade feliz à qual somos vocacionados. Abrimos o mês contemplando o céu, celebrando a vida daqueles que lá nos precedem, os santos. Estes, porém, para chegar lá, tiveram que trilhar o caminho de Cristo, a via da cruz, unindo-se a ele na vida e na morte, para unir-se na glória, na ressurreição. A celebração dos fieis defuntos é um momento oportuno para rezarmos pelos mortos para que, pagando suas penas, contemplem a face de Deus; e pelos vivos, para que tenhamos uma morte santa, isto é, morramos cristãmente. O texto que apresentamos* é um compilado de trechos de três cartas de Santa Teresa dos Andes, dirigidas a destinatários diferentes, que trazem o tema da morte sob a perspectiva de quem crê e de quem não crê.
“Querido papaizinho, que a graça do Espírito Santo esteja sempre em tua alma. A tua filhinha sofre contigo pela morte tão desconsoladora do tio André. Eu te asseguro que me causou uma terrível impressão. Como a morte chega de surpresa, quando não se pensa que depois dela existe a eternidade! Todavia, querido paizinho, não desconfiemos da misericórdia de Deus que é infinita. Um só gemido do seu coração basta para que seus pecados tenham sido perdoados, mesmo que ao nosso ver e juízo pareça o contrário. Confiemos em Deus, mas não se deve abusar do seu infinito amor. Por isso, o melhor é viver em paz com Nosso Senhor, de modo que, se a morte chegar de repente, não nos surpreenda nem nos atemorize.
Que tão imensa diferença existe entre o modo de considerar a morte de um cristão e a de um que não o é. Este só encontra o vazio, o nada, o frio da tumba. O cristão encontra o fim do seu desterro, dos seus sofrimentos, o começo dos gozos eternos. Encontra, em uma palavra, o seu Deus, que é seu Pai, que cuidou dele em cada passo que deu na senda do bem e da dor. Lá está o seu Pai com os braços abertos para acolhê-lo e dar-lhe sua coroa. Que paz não dá tudo isto num momento tão terrível como é o da destruição do nosso ser! (…)
Frequentemente penso naquilo que é a morte para aqueles que vivem no mundo. Para eles parece terrível aquele momento em que tudo termina. Para uma carmelita a morte não tem nada de espantoso. Ela vai viver a verdadeira vida, vai cair nos braços daquele que amou aqui na terra sobre todas as coisas, vai submergir-se eternamente no Amor. (…)
Quando será o dia feliz em que a morte romperá as cadeias do pecado em que vive a nossa alma, e poderemos dizer a nosso Deus: “Já não te ofenderemos mais, e nada nem ninguém poderá nos separar de Ti”?
Às vezes sinto o peso desta vida miserável. Quisera ver-me livre das misérias da carne; porém, depois olho para o tabernáculo e, ao ver que Jesus vive e viverá ali até o fim dos séculos em contínua agonia e abandono, nascem em mim desejos de tornar-me sua companheira de exílio ao qual Ele, por nosso amor, se submeteu. Então digo a Ele com Santa Madalena de Pazzi: “Patire e non morire” (Sofrer e não morrer). “
PARA REFLETIR:
1) Como um cristão e um não cristão veem a morte? Qual a diferença?
2) Rezo pelos que faleceram e por mim mesmo para que tenha uma santa morte?
3) Santa Teresa dos Andes disse: “Confiemos em Deus, mas não se deve abusar do seu infinito amor.” Como entendo esta frase?
4) Como levar o peso da vida, sendo companheiro de Cristo sofredor, para também participar de sua glória?