Paciência, humildade e confiança no caminho de conversão
Não é fácil nos confrontarmos com a nossa condição humana e nos descobrirmos frágeis e pecadores. Num primeiro momento podemos não querer aceitar o que vemos; noutro, podemos querer resolver tudo de uma só vez. Paciência, paciência! Devemos ser pacientes com nós mesmos, com Deus e com os outros. A paciência, diz Santa Teresa de Jesus, tudo alcança.
Os quarenta dias da quaresma nos recordam os quarenta anos que o povo passou no deserto, purificando-se para entrar na terra da promissão. Quarenta anos é metade de uma vida (“Pode durar setenta anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a oitenta.” (Sl 89,10)). Temos, portanto, um tempo maior que é toda a existência, com suas fases e processos, para crescermos na santidade. Deus sabe o tempo que precisamos para realizar a sua obra em nós, e é paciente: “O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo!” (Sl 102,8).
Todavia, devemos considerar a importância do hoje, do momento presente. Diz Sta. Teresinha: “A minha vida é um só instante, uma hora passageira. A minha vida é um só dia que me escapa e me foge. Tu sabes, ó meu Deus! Para amar-Te na terra Só tenho o dia de hoje!” (P 5).
Reconheçamos que é no hoje que devemos responder a Deus: “Eis o tempo favorável! Eis o dia da salvação!” (2Cor 6,1-2). É no agora que devemos nos abandonar em suas mãos, suplicar a sua graça e seu perdão: “Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! (Sl 50,1); é no instante presente que devemos fazer o pouco ou o muito que está ao nosso alcance para vivermos o que Ele nos pede: “Convertei-vos e crede no evangelho” (Mc 1,15).
Todavia, devemos considerar que Deus não olha tanto para a grandeza dos sacrifícios quanto para o amor com o qual os realizamos. Sejam pequenos ou grandes, os atos que fazemos devem ser fundados no amor, mesmo que ele ainda seja imperfeito.
Ato indispensável no caminho quaresmal é acolher e amar a própria pequenez e abandonar-se com confiança nas mãos misericordiosas de Deus. Este é um grande ato de humildade, agradável aos olhos de Deus. É acolhendo o nosso nada que experimentaremos a graça, a força redentora de Cristo em nossa fraqueza (Cf. 2Cor 12,9). Recordemos as palavras de Santa Teresinha:
“Jesus, mais do que reconhecer a minha pequenez, importa amá-la! Sim, amar a minha pequenez, o meu nada. Sei pelas palavras de S. Paulo que escolheste o que é fraco, para confundir o forte; escolheste o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Ti. Concede-me a graça, Senhor, da pobreza de espírito, de um coração humilde, capaz de atrair a Tua misericórdia e de se deixar transformar pelo Teu amor. Que assim seja.” (Carta 197)
Conheçamos o nosso nada, porém não nos detenhamos em olhar tanto para nossa miséria quanto para a misericórdia divina. Diz Santa Teresa de Jesus: “Se ficarmos sempre metidos na miséria de nosso barro, nunca dele brotarão arroios limpos(…) Por isso digo, filhas: ponhamos os olhos em Cristo, nosso bem. Dele e de seus santos aprendamos a verdadeira humildade.” (M 1, 2,11)
Se não fitarmos nosso olhar na misericórdia de Deus, de nada adiantará conhecermos o nosso nada… Conhecer e experimentar o amor de Deus revelado em seu filho Jesus é encontrar a resposta para nossas angústias e aflições, para nossa cura e libertação: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). “Assim, aproximemo‑nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4,16)
Aproximemo-nos do Senhor, fitemos nossos olhos nele e supliquemos a sua misericórdia para nós e para a humanidade inteira. Rezemos com o salmista “Eu levanto os meus olhos para vós, que habitais nos altos céus. Como os olhos dos escravos estão fitos nas mãos do seu senhor. Como os olhos das escravas estão fitos, nas mãos de sua senhora, assim os nossos olhos, no Senhor, até de nós ter piedade” (Sl 122). E ainda: “Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!” (Sl 137).
Com paciência, humildade e confiança, prossigamos e concluamos o tempo quaresmal para bem celebrarmos a Páscoa. Que São José nos interceda por nós
Frei Cláudio, O.C