Conhecer o dom de Deus

Neste mês dedicado à Virgem Maria, continuamos a nossa caminhada pascal, preparando-nos para a Solenidade de Pentecostes. Com Maria somos chamados a perseverar unidos em oração e em missão, suplicando que desça do céu o Espírito Santo, para que todos conheçam o dom de Deus, Jesus Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos (Cf. Fil 3,10).  Exemplo para nós, de conhecedora do dom de Deus, é a Virgem Maria. Seus tantos títulos recebidos comunicam a sua relação com o dom salvífico do Pai à humanidade, Jesus Cristo. Maria, no entanto, não retém esse dom para si. Ela o comunica a todos, para que todos o conheçam.  Leiamos esta meditação mensal que nos é oferecida por Santa Elisabete da Trindade1.

“Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4,10), dizia o Cristo à Samaritana. Mas qual é este dom de Deus, senão ele mesmo? “E”, diz-nos o discípulo amado, “veio aos seus e os seus não o receberam” (Jo 1,11). São João Batista poderia dizer ainda a muitas almas, estas palavras de reprovação: “Há alguém no meio de vós, que vós não conheceis” (Jo 1,26). “Se conhecesses o dom de Deus!”

… Existe uma criatura que conheceu este dom de Deus, uma criatura que não perdeu nenhuma parcela deste dom, uma criatura que foi pura, tão luminosa que parece ser a própria Luz: “Speculum justitiae” (o espelho da justiça); uma criatura cuja vida foi tão simples, tão perdida em Deus, que quase nada se pode dizer a respeito: Virgo fidelis, é a Virgem fiel, aquela “que guardava todas as coisas em seu coração” (Lc 2,51). Conservava-se tão pequena, tão recolhida diante de Deus, no segredo do Templo, que atraiu sobre si as complacências da Santíssima Trindade: “Porque olhou para a humilhação de sua serva, doravante as gerações todas chamar-me-ão bem aventurada!. . . ” O Pai, ao inclinar-se sobre esta criatura tão bela e tão indiferente à própria beleza, quis que ela fosse, no tempo, a Mãe daquele de quem ele é o Pai na eternidade. Então veio o Espírito de Amor, que preside a todas as operações divinas, e a Virgem disse o seu Fiat: “Eis aqui a serva do Senhor, que se faça em mim segundo a vossa palavra” (Lc 1,38), realizando-se o maior dos mistérios. Pela descida do Verbo nela, Maria tornou-se, para sempre, a presa de Deus.

Parece-me que a atitude da Virgem, durante os meses que se passaram entre a Anunciação e o Natal, é o modelo das almas interiores, das pessoas por Deus escolhidas para viver “no interior”, no fundo do abismo sem fundo. Com que paz e recolhimento Maria se submetia e se prestava a tudo! Como as coisas mais banais eram divinizadas por ela pois, em tudo, a Virgem permanecia a adoradora do dom de Deus! Isto não a impedia de doar-se exteriormente, quando se tratava de praticar a caridade; conta-nos o Evangelho que “Maria percorreu apressadamente as montanhas da Judéia, para dirigir-se à casa da sua prima Isabel” (Lc 1,39). Jamais a visão inefável, que ela contemplava no seu interior, diminuiu a sua caridade externa, porque conforme afirma um autor piedoso, “se a contemplação se torna louvor, dirigindo-se além disso, para a eternidade de seu Senhor, ela tem em si a unidade e não a perderá jamais”

PARA REFLETIR:

(1) Maria é o Espelho de Justiça por refletir em seu ser e agir a santidade e justiça de seu Filho Jesus.  Nossas ações refletem a luz da presença de Jesus em nós? (2) Maria é a Virgem Fiel por acolher a Palavra, gestá-la e comunicá-la. Busco a fidelidade à Palavra? De que maneira?  (3) O conhecimento de Maria a levou a servir. O que isso significa?

  1. In: Boaga, Emanuele,  A Senhora do Lugar, Ed. Livraria Ed. do Carmo, 1994. ↩︎
"Deus é comunicativo" (Sta. M. Madalena de Pazzi, O.C)
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