Ano Vocacional Carmelita do Brasil

Por Frei José Leandro Alencar da Silva, O. Carm. 1

PARTE I: Tema, lema e objetivo

Recentemente a Igreja do Brasil viveu e celebrou o 3º Ano Vocacional, fazendo-nos um grande convite para contemplarmos o mistério vocacional, missionário e eclesial escondido no ícone dos discípulos de Emaús.  Da contemplação daquela cena pascal, um grito se fez ecoar no coração e nas preces de todo este país continental bem como no de todos os vocacionados e vocacionadas, conscientes de que toda “Vocação é graça e missão” dada a nós pelo Deus Trindade fazendo “arder nossos corações” e colocando nossos “pés à caminho” para servir como o Senhor e testemunhar sua graça dada a nós pelo Batismo que é fonte de todas as vocações.

Assim, os superiores e superioras da Família Carmelitana do Brasil com seus corações ardentes prontamente desejaram que o Carmelo brasileiro pudesse viver e celebrar, como fruto concreto da vivência do 3º Ano Vocacional do Brasil, um ano vocacional carmelitano. Lembrando que a família do Carmelo é grande, pois o Carmelo, nome derivado do hebraico Karmel significa “jardim”, “campo fértil” ou “vinha do Senhor” (carmo significa “vinha”, el significa “Senhor”), é o Jardim ou a vinha do Senhor como exalta as Sagradas Escrituras: “Eu vos introduzi na terra do Carmelo, para que comêsseis os seus frutos, e o melhor dela” (Jr. 2, 7). Como jardim ou pomar que tem uma diversidade de flores e frutos, assim é a Família do Carmelo. Somos muitos. Somos frades. Somos religiosas de vida de clausura e diversas Congregações e Institutos femininos de vida apostólica e missionária. Somos ainda leigos, leigas e jovens. Todos formamos a grande família do Carmelo com diversas expressões deste carisma para o bem da Igreja e suas necessidades, pois a espiritualidade do Carmelo não pertence a si mesmo, nasceu da Igreja e para a Igreja.

Pensando como bem viver este 1º Ano Vocacional Carmelita começamos a pensar e a definir o tema e o lema, pois ter um tema definido ajuda a criar uma atmosfera de reflexão e meditação bem como unificar os objetivos, estratégias, metas e quais os frutos que desejamos que brotem da riqueza temática e vivencia do ano vocacional. Assim nosso tema para este ano vocacional é: “Carmelo: um lugar, um caminho, uma missão”. O lema tem sua inspiração eliana, uma vez que o Profeta Elias exaltado com louvores nas Sagradas Escrituras é o pai e inspirador do Carmelo. Lema: “Jovem, levanta-te e vem beber desta fonte”. (I Rs 17, 1-6). A abertura oficial deste ano foi realiza no dia 26 de novembro do ano passado e vai ter seu encerramento no dia 24 de novembro deste ano de 2024.

Para tornar eficaz este ano, estabelecemos alguns objetivos como metas, tais como: encantar os jovens para o carisma carmelita com nosso modo de vida, oração e missão; aprofundar no Carmelo Brasileiro a consciência (cultura) vocacional junto às comunidades religiosas (conventos e mosteiros) e grupos de leigos, bem como às paróquias, escolas e instituições, favorecendo o surgimento e acompanhamento de novas vocações; despertar nos jovens o amor a nossas figuras inspiradoras (Maria, Elias e Eliseu), fundadoras e fundadores, santas e santos e o desejo de conhecer as várias formas de ser carmelita e motivar, em todas nossas ações, uma espiritualidade vocacional.

A você leitor (a) pedimos que reze pelas vocações do Carmelo, reflita e conheça mais o carisma e a espiritualidade do carmelo que já gerou tantos santos e santas e que de tão atual encanta jovens, adultos e famílias.  Diante do convite de Cristo, que nos chama a viver nossa vocação, queremos deixar um convite especial aos jovens para nos procurarem. Estamos espalhados pelo Brasil inteiro e há mais de oito séculos nosso modo de vida tem sido um verdadeiro projeto de amor, cuja meta é a santidade.

PARTE II: O Monte Carmelo

O 1º ano vocacional Carmelita do Brasil em seu tema quer propor um itinerário vocacional e espiritual do Carmelo para todos os que desejam se enriquecer cada vez mais de seu carisma. O tema como vimos no artigo anterior “Carmelo: um lugar, um caminho, uma missão” norteará as nossas próximas reflexões. Falemos do Carmelo como  um lugar.

O Monte Carmelo é uma bela e mística montanha inúmeras vezes citada nos livros sagrados revelando sua riqueza geográfica e espiritual, pois Carmelo quer dizer jardim, vinha, campo fértil do Senhor, ou seja, um lugar de rica e diversa vegetação símbolo da graça e da prosperidade como se declara em Jeremias 46, 18 e Isaías 35, 2. A tradição bíblica tem o Monte Carmelo como residência habitual de Elias e seguindo seu exemplo, Eliseu também teria se retirado com frequência para lá.

A Ordem dos Carmelitas surgiu no século XII, quando um grupo de ex- cruzados, peregrino e penitentes se estabeleceram nas grutas do Monte Carmelo ao pé da fonte do Profeta. Não é providencial que os primeiros Carmelitas como que para simbolizar a imitação de Elias, tenham bebido a água da fonte que dele recebeu o nome? A Ordem do Carmo recebe o seu nome do monte sagrado em que teve origem. Na Terra Santa, onde cada montanha possui as suas grandes tradições e memórias, o Monte Carmelo pode gabar-se de algumas das mais santas e veneráveis, como a luta da  defesa da fé no Deus de Israel.

Temos o relato de um historiador contemporâneo ao surgimento da Ordem no Monte Carmelo que assim testemunha a vida e abudância espiritual do lugar e dos primeiros carmelitas: “Ao exemplo e imitação do santo e solitário homem Profeta Elias, junto à fonte que de Elias leva o nome, em cubículos como colmeias, onde como abelhas colhiam o mel divino da doçura espiritual” (Jacques de Vitry)

Como lugar, o Monte Carmelo, tornou-se refúgio da Vida Contemplativa, caracterizada por Elias. Para aqueles primeiros frades, o Monte Carmelo deixou de ser uma simples referência geográfica para tornar-se um ideal de vida. O caminho carmelita passa necessariamente pelo monte, com todos os significados que a espiritualidade bíblica a ele atribui.  É o lugar da parada dos peregrinos, da subida, da jornada para a comunhão com o Senhor.

O Monte confere ao grupo um nome, uma identidade, uma terra. Eles irão levá-lo a todos os recantos por onde se espalham, fazendo de suas habitações outros pequenos Carmelos, lugares evocativos da aventura inicial.

O Monte Carmelo é o lugar também da beleza de Maria, a Senhora do Lugar, como era denominada pelos primeiros carmelitas.  A partir do título de Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, relembremos que não é uma pura referência ao lugar, nem à devoção, mas uma forma simbólica de ligação ao mistério da Virgem mãe.

O esplendor ou a beleza de que falamos do Monte Carmelo é o Espírito que enche Maria e repercute nela. O Monte Carmelo é um lugar e à luz da Palavra, no contexto de uma história sagrada, já não é um lugar, mas revela um mistério. É um símbolo. Trazer no coração o símbolo do Monte Carmelo como todo carmelita é sentir-se ligado ao lugar do nascimento da Ordem e à sua identidade. O Carmelita é aquele que, nascido no Monte Carmelo, sente-se convidado a sair de si mesmo para subir até o cume da montanha para uma união plena com Deus.

PARTE III: Itinerário Vocacional e espiritual do Carmelo

Continuemos nossa rica reflexão pensando agora o itinerário Vocacional e espiritual do Carmelo como “um caminho”.

A vida é um caminho. Você está a caminho, mas não vai só: com você caminham também muitos outros irmãos e irmãs. Uns caminham com entusiasmo, outros lamentam-se, outros buscam apoio no seu braço, para que os ajude a subir o monte. Lá em cima encontra-se Jesus de Nazaré que deseja manifestar-lhe todo o seu carinho.

Há uns oitocentos anos, um grupo de pessoas iniciou um caminho, uma peregrinação em direção à Terra Santa: deixaram as suas casas, os seus entes queridos, os seus bens, e puseram-se a caminhar. Nos seus corações escutaram o chamado do Senhor, e desejavam viver para sempre com Ele. Seguir Jesus era a sua maneira de responder com generosidade e alegria à sua vocação. Este grupo de peregrinos estabeleceu-se no Monte Carmelo e deu origem aos que hoje conhecemos como CARMELITAS.

Viver é caminhar. Todo caminho é sempre concebido como um percurso entre dois pontos distintos e distantes. Nenhum caminho é um fim em si mesmo, por isso não existe caminho para si mesmo. Caminho é sempre alguma coisa para outra coisa, sempre levando a algum lugar.

Quando pés corajosos se aventuram pelas estradas da vida, é preciso saber caminhar, e para tanto, é preciso minimamente ter um método espiritual para que a jornada da vida proceda de forma saudável. Quando a vida é entendida como caminho, o ser humano é forçado a se perceber como um eterno viajante que ainda não alcançou a sua plenitude. O imperativo que se impõe é, ande, caminhe, nunca pare até chegar ao seu lugar ideal.

Os primeiros carmelitas são peregrinos, homens inconformados com um modelo de viver a fé que, movidos pelo desejo de seguir a Jesus de forma mais radical, buscam na terra santa, o Santo da terra. O carmelita é por natureza um inquieto, peregrino, inconformado com a mesmice da fé e da história, aventureiro do absoluto.

O Carmelo tem uma espiritualidade como caminho que vem sendo trilhado e partilhado e que tem a contemplação como meta deste caminho. O caminho Carmelita é interior por ele Deus atrai-nos para Ele num caminho interior que conduz da periferia dispersante da vida para a cela mais íntima do nosso ser, onde Ele mora e nos une a Si. É um caminho evangélico para crescer no amor e na doação; é um caminho ascético marcado por um esforço contínuo por “oferecer a Deus um coração santo e purificado”. É ainda um caminho pelo deserto que é o lugar solitário e árido que floresce e converte-se em lugar onde a experiência da presença libertadora de Deus forma a fraternidade e impulsiona para o serviço. Se pensarmos as mais diversas expressões da vida e vocação carmelita, podemos dizer que há um caminho que se desdobra em tantos caminhos mas que no todo forma o único caminho do Carmelo em sua totalidade, o caminho que se torna um estilo de vida. O caminho da vida monástica carmelita, o caminho eremítico, o caminho carmelita para a vida apostólica e missionária dos frades e irmãs, e o vasto caminho carmelita percorrido por tantos leigos e jovens. O Carmelo une todos estes caminhos e juntos formamos a grande família Carmelita. Venha beber desta fonte e fazer parte desta família!

  1. É articulador geral do 1º Ano Vocacional Carmelita do Brasil, membro da Província Carmelitana Pernambucana. ↩︎
"Deus é comunicativo" (Sta. M. Madalena de Pazzi, O.C)
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