Partilha Vocacional

Na comemoração do Ano Vocacional Carmelitano, apresentamos algumas histórias vocacionais de frades e leigos carmelitas que fizeram ou fazem do Carmelo um lugar, um caminho e uma missão. A quinta partilha que trazemos é a da Irmã Jéssica Maria, noviça carmelita da Ordem Terceira do Carmo de João Pessoa/PB.

Sou filha caçula de Maria Glaucinete Barros do Nascimento e Joseilson Martins do Nascimento, natural do estado de Alagoas, mas passei toda a minha infância mudando de estado, devido ao trabalho do meu pai. Logo, sempre estava debaixo da asa dos meus pais. Toda a minha família é natural de João Pessoa e, quando eu tinha 9 anos, nos instalamos aqui e assim permanecemos até hoje.

A Virgem Maria sempre esteve muito presente em minha vida, desde o colo, quando me curou de um problema respiratório gravíssimo que nenhum médico conseguia o diagnóstico; passei uma noite muito ruim e meus pais já estavam desesperados, sem esperança de eu amanhecer viva. Me levaram para a casa de minha madrinha de batismo já no fim da noite, pois ela era enfermeira chefe de uma Usina onde meus pais também trabalhavam. O hospital ficava a muitas horas do interior em que morávamos e a situação da época era bem precária. Minha madrinha foi sincera ao dizer aos meus pais que eu estava muito debilitada, mas que ia fazer de tudo para eu ficar bem; além dos cuidados com medicamentos fitoterápicos, ela passou a madrugada me observando e rezando a Nossa Senhora o santo terço, e ao amanhecer eu estava muito bem; todos ficaram surpresos com minha recuperação e parecia que eu nunca tinha ficado doente; estava bem esperta e sem sinal dos problemas respiratórios.

Ela sempre dizia que eu tinha sido curada por Nossa Senhora através das orações naquela madrugada, e até hoje nunca tive problemas respiratórios. Ainda criança um padre da diocese me consagrou a Nossa Senhora e me recordo que, mesmo sem entender nada eu dormia com santinhos de Nossa Senhora (ate os 9 anos foi assim). Tinha um amor muito grande por Ela e sempre rezava antes de dormir, mesmo sozinha, como me foi ensinado.

Devido a nunca nos instalarmos em uma cidade, eu fiz a primeira comunhão muito tarde, aos 12 anos de idade, ainda na adolescência. Comecei a frequentar a Santa Missa aos domingos (espontaneamente) e depois da Crisma, aos 15 anos de idade, senti o desejo de entrar em um grupo de música da minha paróquia, e assim comecei a servir no canto e depois de dois anos me consagrei a Nossa Senhora de forma espontânea; quis ir para a Igreja do Carmo e assim fiz minha consagração privadamente e com uma vela na mão. Minha mãe também era muito ativa em nossa paróquia e foi uma das fundadoras da Pastoral do Acolhimento, era uma mulher de muita fé e bem animada, muito querida na comunidade.

Eu sempre fui dos movimentos da Renovação Carismática, cantava em retiros e assim foi minha caminhada até boa parte da minha juventude; depois de alguns anos passei a me identificar menos com o movimento e sempre ia visitar as monjas do Carmelo descalço do Conde-PB. Queria vivenciar algo que tivesse mais o silêncio e me aprofundar mais interiormente na caminhada de fé; minhas visitas eram quase que semanalmente no Carmelo, pois meu pároco quase sempre ia nas segundas-feiras dar assistência dos sacramentos e eu e mais dois amigos íamos com ele ajudar na Missa; saíamos cedo, umas 5 horas da manhã e tomávamos café com as irmãs, logo após a Santa Missa. Meu pároco e a madre do Carmelo sempre viram em mim uma vocação carmelita; e mesmo amando a espiritualidade carmelita, sentindo-me muito atraída, eu não me enxergava dentro da clausura e queria viver sim a espiritualidade, mas o meu coração pedia que fosse no mundo e assim ser um sinal vivo do carisma que despertava em meu coração. Mas nunca encontrei grupos ou movimentos de espiritualidade carmelitana em minha cidade.

Eu nunca tive pretensão de ingressar em alguma OTC, apesar de frequentar as Missas da semana na Igreja do Carmo e amava me confessar com o Frei Cláudio. Depois que ele foi embora passei a frequentar menos e fiquei assistindo as Missas diárias na minha paróquia mesmo. No dia 27 de fevereiro de 2022, minha mãe faleceu, depois de anos de luta com tratamentos invasivos contra um câncer raro na cabeça. Desse dia em diante passei a sentir maior o chamado de pertencer a algo, ter uma caminhada mais sólida e a serviço de Deus e do próximo; conheci algumas pessoas de uma comunidade, de espiritualidade carismática, onde foi um período que pude me curar do luto da perda de minha mãe, amando os irmãos de rua e levando conforto, sempre os ajudava nas missões e nos encontrávamos para rezar, e passei novamente a querer ser mais de Deus. Mesmo ajudando essa comunidade, eu não me sentia chamada a viver o carisma dessa comunidade, apesar de ter uma relação com as pessoas de lá e vivenciar algumas das missões. Continuei pedindo à Virgem Maria que me mostrasse o caminho, o lugar que eu deveria ficar para sempre, servindo a Deus e a Ela, e que quando encontrasse esse lugar, tirasse a perturbação que eu tinha no meu coração.

E assim foi ainda no ano de 2022, na grande solenidade de Nossa Senhora do Carmo, a Senhora do Lugar: entrei na Igreja do Carmo para assistir a Santa Missa e já senti algo diferente ali. Era algo bom e me senti em casa como nunca antes. Na homilia de Frei Rafael Freire, que na época era nosso diretor espiritual, fiquei bastante emocionada com suas palavras e fiquei encantada com o seu testemunho de vida carmelita, com a seriedade que levava e nas palavras que proferiu sobre Nossa Rainha do Carmo. No final da Santa Missa, uma irmã professa muito querida, Ana Maria, me convidou para conhecer a Ordem e comentou que iria iniciar as inscrições para o ingresso na Ordem Terceira. Eu anotei a data e fiquei nessa santa ansiedade para me inscrever; de início não tinha pretensão de ficar na Ordem, apenas conhecer, sem compromisso; fui muito bem acolhida por todos e fui criando raízes lá, e sempre na disponibilidade de servir onde quer que seja.

Hoje como formanda, vivenciando esse período de Noviciado na Ordem Terceira, posso dizer, com toda a sinceridade do meu coração, que encontrei o meu lugar; encontrei a paz no meu coração, aquela perturbação foi embora e meu desejo é só amar mais a Deus e a Nossa Senhora dentro do carisma carmelitano, através da Ordem do Carmo e no meu Sodalício. Estou muito feliz e certa da minha vocação como irmã terceira. E assim aconselho aos jovens que assim como eu, já passaram ou estão passando por esse processo vocacional, que não desistam. Quando estamos vivendo a vontade de Deus na nossa vida, na certeza da nossa vocação, mesmo que os espinhos sejam maiores do que as rosas, nada nos desestrutura e só confirma a vocação que fomos chamados e seguimos nessa certeza. Quando Deus é o centro da nossa vida, o nosso foco, a caminhada se torna mais leve no lugar o qual fomos chamados.

Que o Senhor nos abençoe e a Virgem Maria do Carmo, junto com os santos carmelitas, nos ensinem a fazer a vontade do Senhor sempre! O caminho com Eles é bem seguro e mais sólido!

Jéssica Maria Barros do Nascimento
22 de Abril de 2024
Sodalício da Ordem Terceira do Carmo de João Pessoa.

"Deus é comunicativo" (Sta. M. Madalena de Pazzi, O.C)
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