Santo Oscar Romero e Nossa Senhora do Carmo
No dia 24 de março celebramos Santo Oscar Romero, bispo católico salvadorenho martirizado em 24 de março de 1980, por defender os direitos humanos na luta contra a ditadura opressora de El Salvador. Ele foi beatificado em 23 de maio de 2015, e canonizado em 14 de outubro de 2018, pelo Papa Francisco.
Santo Oscar Romero era devoto de Nossa Senhora do Carmo e morreu revestido do Santo Escapulário. Em muitas oportunidades pregou sobre a devoção à Virgem do Carmo e o Escapulário.
Trazemos um texto de sua autoria publicado no Semanário da Arquidiocese de El Salvador, Orientación, em 15 de julho de 1979, sobre Nossa Senhora do Carmo com o título Maria Estrela da Evangelização1, nas vésperas de sua comemoração.

16 de julho é uma data que se destaca no calendário da piedade popular: é o dia da Virgem do Carmo. Não me esqueço de uma definição bem acertada na qual um missionário expressava sua admiração pela profunda consistência desta devoção mariana entre nós, chamou Nossa Senhora do Carmo ‘a melhor missionária do povo’.
Na verdade, eu creio que não há nenhum povoado salvadorenho onde no dia da Mãe do Carmelo a gente não se sinta atraído pela Virgem Maria através desta invocação. Isto é observado desde a alegria geral de uma festa de padroeiro até a simples celebração de uma confraria, ou uma missa ou uma oração no altar da Virgem, seja na igreja matriz ou numa capela ou em casa, onde a família guarda como herança carinhosa uma imagem que veneraram os seus avós.
Hoje, quando os pastoralistas estão dando, em suas reflexões e orientações, muita importância à religiosidade ou piedade popular, a devoção à Virgem do Carmo é um fenômeno que merece atenção para ser cultivada como uma dessas providenciais recordações que a Igreja tem para cumprir sua tarefa essencial de evangelizar.
Na carta magna da evangelização, ou seja, na exortação Evangelii nuntiandi, o inesquecível Paulo VI, que recolheu a experiência pastoral do episcopado do mundo, deixou as normas eficazes para discernir os valores incomparáveis destas devoções populares. Pois não há dúvida de que essas manifestações religiosas misturam aos grandes elementos positivos da evangelização muitos desvios de fanatismo, superstição, interesses egoístas e até erros doutrinários.
interesses egoístas e até erros doutrinários. Porém, bem aproveitadas, essas expressões da alma do nosso povo são verdadeiro culto ao nosso Deus e, talvez para muitos serão as únicas oportunidades para encontrar-se com o Senhor.
Se uma peregrinação da Virgem do Carmo, se a preparação para se revestir do escapulário ou a recordação renovadora da aliança com Maria nos leva até a meta da evangelização, que é a conversão sincera e a expressão, pelos sacramentos, de nossa adesão ao Evangelho e às suas difíceis exigências, não há dúvida de que o 16 de julho é um dia privilegiado para nossa pastoral.
O dia de Nossa Senhora do Carmo é, portanto, uma rica herança da Igreja de hoje, que é a Igreja de sempre. O que é urgente é fazer com estes tesouros herdados o que se faz com toda herança: não a destruir, mas cultivá-la.
Seria imperdoável destruir ou criticar negativamente essas belas expressões piedosas de nossa gente só porque não se acomodam a critérios teológicos mais eruditos. Sábio é enriquecer esses canais que puseram nossos antigos evangelizadores com os tesouros renovadores da nova pastoral. ‘A caridade pastoral há de ditar, a todos aqueles que o Senhor colocou como chefes de comunidades eclesiais, as normas de procedimento em relação a esta realidade, ao mesmo tempo tão rica e tão vulnerável. Antes de mais, importa ser sensível em relação a ela, saber aperceber-se das suas dimensões interiores e dos seus inegáveis valores, estar-se disposto a ajudá-la a superar os seus perigos de desvio. Bem orientada, esta religiosidade popular, pode vir a ser cada vez mais, para as nossas massas populares, um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo‘ (EN, 48).
Se isto vale para toda religiosidade popular, quanto mais eficaz será este ensinamento de Paulo VII quando as massas rodeiam com carinho de filhos a Virgem Maria, belamente chamada no mesmo documento de ‘estrela da evangelização‘ (ibid, 82).
- Fonte: ROMERO, Mons. Oscar A., Cartas Pastorais, Discursos e outros Escritos, Tomo 7, UCA Editores, 2017, 447-448 (Tradução nossa) ↩︎