Partilha Vocacional

Na comemoração do Ano Vocacional Carmelitano, apresentamos algumas histórias vocacionais de frades e leigos carmelitas que fizeram ou fazem do Carmelo um lugar, um caminho e uma missão. A segunda partilha que trazemos é a de João Pedro, postulante carmelita, residente no Convento de Santo Alberto, Goiana/Pe.

Minha trajetória vocacional começa muito cedo, e gosto sempre de citar a história do meu nascimento. Sou filho de pais jovens, e minha mãe, quando estava no oitavo mês da minha gestação, viveu o drama de uma eclampsia, tendo uma série de convulsões. Pelo diagnóstico médico, tudo indicava a perda de um dos dois, pois seria impossível que saíssemos ilesos daquela situação. Cheia de fé e devoção à Virgem Maria, disse minha avó aos médicos: SEJA FEITA A VONTADE DE DEUS! E assim Deus fez como queria. No dia 19 de maio de 2004, lá estávamos nós, eu e minha mãe, sãos e salvos da morte.

Sou natural de João Pessoa-PB, no entanto apenas por uma questão de vir à luz, pois toda a minha vida se passa em Lucena-PB, onde cresci numa família católica e de notável engajamento nas atividades religiosas da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus Menino e no Santuário de Nossa Senhora da Guia.

Quando nasci, minha paróquia era administrada pelos Carmelitas Descalços, dos quais minha família tinha proximidade e amizade, inclusive fui batizado por um frade carmelita descalço. Porém, não cheguei a ter convívio com eles, mas com os carmelitas da antiga observância que, no ano de 2008, reassumiram, depois de quase um século, a missão que realizavam outrora no meio daquele povo praieiro, abrindo assim o Convento Beato Eliseu Maneus (hoje com o nome Frei Casanova). Os frades que chegaram nessa nova missão foram: Frei Gilsimar Ferreira, O.C, e Frei Luiz Nunes Pereira, O.C.

Eu, já participando da vida da comunidade desde o berço, por assim dizer, pude logo conhecê-los, e quando olhei para o Frei Gilsimar – e é algo que guardo nitidamente na memória – aos 4 anos de idade, disse para mim mesmo: “eu quero ser como ele!” E posso afirmar que, desde esse dia até hoje, nunca pensei em outra coisa na vida. Considero uma graça poder ter experimentado, através do convívio e da amizade, a espiritualidade dos carmelitas na minha paróquia e na minha família. Posso dizer que, desde pequeno, fui nutrido dessa espiritualidade que guardo com todo o carinho da doce lembrança da infância.

Mas houve também outro acontecimento marcante com o qual eu posso dizer que foi a confirmação desse desejo.

No Natal de 2009, motivado pelos colegas de escola, escrevi uma carta para o Papai Noel pedindo uma imagem de Nossa Senhora. Escrevi e engavetei, por não crer que isso fosse se realizar. No ano seguinte, o Frei Gilsimar havia sido transferido, e para que pudéssemos nos despedir, minha família realizou um almoço para ele. Ele foi, nos confraternizamos e até então eu pensava que não o veria mais. Mas, antes de ir embora, pela manhã, ele passou em minha casa e chamou-me no portão: “Bebê!” (apelido que me deu desde que havia chegado), e entrando disse: “Papai Noel chegou atrasado!” A princípio eu não estava entendendo nada. Então ele abriu a bolsa, tirou um presente e pediu que eu abrisse: era uma imagem da Virgem do Carmelo! Claro que dias antes disso minha mãe tinha lido a carta e tinha comentado com ele…

No meio de algumas palavras, ele me falou da importância da Virgem Maria, com palavras que me tocaram, e também um presente que me marcou profundamente. Ele seguiu sua missão e eu fui crescendo, nutrindo essa devoção e espiritualidade em mim. Também tive a boa convivência com muitos frades e postulantes que por Lucena passaram e que, com o jeito de ser de cada um, puderam exalar um pouco do aroma carmelitano.

No ano de 2021, iniciei o itinerário de acompanhamento vocacional on-line, devido a pandemia; depois mais três encontros vocacionais e duas semanas de convivência, quando por fim, no dia 03 de março deste ano, ingressei no Postulantado I no Convento Santo Alberto da Sicília, em Goiana-PE, tendo – pela Divina Providência – a honra de ter o Frei Gilsimar como formador! Aquele que foi instrumento de Deus no meu despertar vocacional, hoje é quem me acompanha nessa trajetória inicial no Carmelo.

De tudo isso que eu trago nesta partilha vocacional, uma só coisa eu gostaria de dizer: vale a pena fazer a VONTADE DE DEUS! Vale a pena se aventurar no seu chamado! Digo e afirmo que não me arrependo da escolha que eu fiz, e sei que se Ele me deu a oportunidade de viver, é para Ele que eu devo viver. É perseverando nos caminhos do Senhor, buscando sempre viver e acolher o querer de Deus nas nossas vidas, apesar das circunstâncias, que nós seremos felizes.

Que a Virgem do Carmo sempre nos ensine a fazer a VONTADE DE DEUS!

João Pedro Galvão do Nascimento

20 de abril de 2024

Convento Sto. Alberto, Goiana-PE

"Deus é comunicativo" (Sta. M. Madalena de Pazzi, O.C)
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