Partilha Vocacional

Na comemoração do Ano Vocacional Carmelitano, apresentamos algumas histórias vocacionais de frades e leigos carmelitas que fizeram ou fazem do Carmelo um lugar, um caminho e uma missão. A terceira partilha que trazemos é a da Irmã Maria José do Espírito Santo, O. Carm, monja carmelita do Carmelo São José de Triunfo/PE.

Meu nome é Ir. Maria José do Espírito Santo O. Carm., pertenço ao Mosteiro São José, Triunfo-PE e é com grande alegria que estou aqui para compartilhar o dom e a graça do meu chamado e da minha escolha de amor para o Amor.

Desde criança eu sempre pensei em seguir uma carreira que pudesse ajudar minha família e que me fizesse feliz. Nunca passou pela minha cabeça em seguir a Cristo mais radicalmente. Eu me lembro que, desde criança, eu sempre ia às missas e à Igreja com minha mãe e eu sentia algo diferente dentro de mim. Com os meus 12 anos, eu fiz a preparação para ser coroinha, e eu me lembro que, no dia da minha vestição, eu me senti completa: eu queria apenas ser de Deus, no sentido mais profundo que pudesse existir. Fui trilhando um caminho na Igreja, sempre participando dos grupos, ajudando e me esforçando para dar o meu melhor. Comecei a trabalhar, a namorar, mas existia alguma coisa que não me saciava.

A Paróquia em que participava é assistida pelos frades carmelitas. A espiritualidade carmelita sempre foi muito presente na minha vida. Eu sempre penso e falo que meu chamado foi muito claro e que eu não tenho dúvidas; mas também foi algo gradativo, primeiro que eu estava super bem, tinha um emprego, liberdade, tinha um namorado, tinha tudo para viver uma vida muito boa, mas eu comecei a sentir que isso não me completava. Então terminei o meu namoro. No mesmo dia em que fiz isso, sofri um acidente que me fez pensar muito na vida. Eu senti um enorme vazio dentro de mim. Percebi que tudo era passageiro e que o que eu estava fazendo ou como eu estava vivendo não valia a pena, e fui seguindo com esse anseio e sofrimento.

Dois meses depois, já estava mais recuperada e houve uma visita pastoral do Bispo Diocesano com uma comunidade de missionários. Era uma semana com missões, encontros…, e eu fui todos os dias ajudar. Esse momento foi primordial no meu chamado. Eu olhava para os missionários e sentia que era isso que Deus queria de mim, queria que eu fosse toda d’Ele. Era um chamado tão forte que eu só queria responder com o meu sim.

A partir dessa visita pastoral, eu me decidi que eu queria viver para Ele, porém não sabia para o que, ou aonde o Senhor me chamava. Então comecei a procurar e conheci algumas congregações, mas não me sentia bem, faltava algo. Comecei o acompanhamento com Irmãs carmelitas de vida ativa, fiz todos os encontros e decidi que eu queria ser carmelita, porque a espiritualidade carmelita me fascinava. Isso era 14 de dezembro de 2018, e a congregação me perguntou se eu queria entrar. Se sim, minha entrada seria no início do segundo semestre de 2019. Eu respondi que sim, mas um sim tão pesaroso, porque eu sentia que Deus queria algo a mais, e eu não entendia. Me sentia em um túnel escuro com uma voz me chamando, e a única coisa que me guiava era o coração que se encaminhava para a voz, mas não enxergava nada nem ninguém.

Nesse mesmo tempo eu tinha algumas amigas que também sentiam o desejo de seguir a vida religiosa, e uma delas se sentia chamada para a vida contemplativa, e tinha muito entusiasmo. Ela me chamou para acompanhá-la na visita ao Mosteiro. Primeiro pensei que não seria bom ir, porque já estava comprometida com uma congregação; mas minha amiga insistiu muito que eu fosse e eu decidi ir somente para acompanhá-la e dar um apoio moral. Era dia 03 de janeiro de 2019.

Quando minha amiga entrou, sentiu nos primeiros momentos que ali não era o seu lugar, e eu senti que era ali o meu. A sensação , os batimentos, o cheiro, o silêncio e a voz, eu nunca me esqueço. Eu senti minha alma em uma grande paz. Não era qualquer paz, mas era a paz que une, que me fazia completa, e foi assim que eu VI e OUVI aquela voz do túnel que me chamava e me disse claramente no meu mais profundo: Encontrei o Amado da minha alma. Passou-se um grande filme na minha cabeça, e naquele momento eu senti e entendi que Deus me chamava para viver ali, nos átrios do Senhor ao redor da fonte, e para mim foi tão nítido e claro que eu não tenho dúvidas. A cada dia que se passa eu tenho mais certeza que eu fui escolhida desde o ventre da minha mãe para ser sua.

Hoje eu chego a conclusão que eu não preciso pedir mais nada a Deus. Ele me ama e já me deu tudo. Sou eu que agora tenho que dar a Ele; e o dom mais precioso que eu tenho que é a vida eu oferto todos os dias ao Senhor. Eu sou muito feliz porque me sinto completa e realizada, me sinto coerente com o meu chamado! Talvez em pleno século XXI, seja loucura deixar tudo e viver uma vida de clausura; mas, se eu tivesse 1.000 vidas, todas as 1.000 eu daria ao Senhor, porque eu encontrei o meu lugar, e sinto que tudo que deixei é apenas um pequeno nada em comparação com o que eu tenho. Eu quero apenas ser toda dele, e que nos meus olhos as pessoas sintam a alegria e a profundidade de ser de Deus. Que o Criador, o Deus de Amor nos fortaleça e nos faça aptos para um dia nos encontrarmos com Ele face a face, e que Nossa Mãe do Carmo nos ajude a ser consagrados (as) autênticos(as) na busca do Reino de Deus.


Em comunhão de Oração,


Ir. Maria José do Espírito Santo, O. Carm

"Deus é comunicativo" (Sta. M. Madalena de Pazzi, O.C)
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