Os Carmelitas e Santa Dulce dos Pobres
Hoje, 13 de agosto, celebramos o dia de Santa Dulce dos Pobres, o anjo bom da Bahia, a primeira santa nascida no Brasil. Como Igreja nos alegramos por celebrar a memória desta grande santa que deixou o seu testemunho de caridade para com os mais necessitados, tornando-se um ícone para os brasileiros.
Talvez nem todos saibam, mas existe um vínculo entre Santa Dulce e os Frades Carmelitas. Um pedacinho do Carmelo, o Convento do Carmo, em São Cristóvão/Se, foi responsável pelos primeiros passos da jovem Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes no caminho de consagração na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição.
Na época, 1933, os Carmelitas não estavam mais morando no convento. Haviam chegado no século XVII e deixado a cidade no começo do século XX. O convento pertencia à Arquidiocese de Aracaju/Se e era habitado pela congregação já citada. Era a casa de formação inicial das irmãs, onde as jovens faziam as etapas de postulantado e noviciado. Na época, nossa santa tinha 19 anos.
No convento, há lugares e objetos que recordam a passagem de Santa Dulce e que simbolicamente podem ser interpretados como sinais de sua missão na Igreja. Deste apresento três: a gruta, o sino e o altar de Santo Antônio, que normalmente são apresentados aos turistas que, hoje, visitam o convento.
A gruta de Nossa Senhora de Lurdes é um local fora do convento, mas dentro do espaço carmelita. Foi construída pelas irmãs e era um ambiente de oração e lazer. Na lápide ao lado da gruta podemos ler: “Aqui, sob o manto da Virgem de Lourdes, o anjo bom do Brasil, Irmã Dulce e suas irmãs religiosas da IMC desfrutaram muitas tardes dominicais de oração e lazer. Consolidou-se em sua alma o imenso desejo de amar e em sua vida o compromisso de servir”.
O local evoca a vida de oração de Santa Dulce. A oração foi o elemento fundamental para o desenvolvimento e amadurecimento de sua vocação e, portanto, para a resposta aos contínuos apelos que Deus lhe fez em sua existência, impelindo-a a amá-lo e servi-lo nos pobres e mais necessitados. A imagem da Virgem Maria é sinal de uma vida em plena comunhão com Deus e o próximo na caridade. Maria é a mãe dos pobres.
Algumas frases de Santa Dulce nos falam sobre sua vida de oração1:
“No amor e na fé encontraremos as forças necessárias para a nossa missão.”
“Habitue-se a ouvir a voz do seu coração. É através dele que Deus fala conosco e nos dá a força que necessitamos para seguirmos em frente, vencendo os obstáculos que surgem na nossa estrada.”
“Nós somos como um lápis com que Deus escreve os textos que Ele quer ditos nos corações dos homens”
Passemos para o sino, que “despertava”, isto é, chamava à comunidade ao Sacrifício Pascal de Cristo na Eucaristia e outras obrigações religiosas. Despertar para o amor, este é, com certeza, o significado espiritual escondido por detrás do toque deste objeto tão usado em nossas igrejas. Participar da Santa Missa é responder ao amor de Cristo, renovado a cada celebração eucarística.
O toque do sino tem um duplo significado: amar a Deus e amar o próximo. Somos despertados para ir ao encontro de Cristo no sacramento, e deste irmos ao encontro do mesmo Cristo nos irmãos. Amar a Deus e amar o próximo: esta é a síntese da vida de Santa Dulce dos pobres.
Algumas frases de Santa Dulce nos ajudam a compreender a caridade:
“O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus.”
“Se Deus viesse à nossa porta, como seria recebido? Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é um outro Cristo que nos procura.”
“”Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros as nossas pequenas faltas e defeitos. É necessário saber desculpar para viver em paz e união.”
Enfim, falemos do altar de Santo Antônio, um santo cuja devoção está ligada à história da fundação de alguns conventos carmelitas da Província Carmelitana Pernambucana. Parece não ser difícil associar Santa Dulce a Santo Antônio. Santo Antônio é também um santo da caridade. “Santo Antônio é patrono das mulheres estéreis, dos pobres, dos viajantes, dos pedreiros, dos padeiros, entre outros. Devido à sua caridade com os pobres, com frequência se representa Santo Antônio oferecendo pão a indigentes”2.
O testemunho de caridade de Santo Antônio – sendo ele um dos baluartes da Família Franciscana, da qual faz parte a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição – inspirou a jovem Dulce a acolher e cultivar o carisma no qual ela daria os seus frutos de santidade.
Outras frases sobre a caridade nos ajudam a penetrar no coração de Santa Dulce:
“O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, vencer o egoísmo”.
“Não entro na área política, não tenho tempo para me inteirar das implicações partidárias. Meu partido é a pobreza.”
“Foi o nosso povo, com a sua fé, sob inspiração de Deus, que construiu toda essa obra.”
Hoje, as Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição não residem mais em São Cristóvão. Os Carmelitas retornaram para o Convento do Carmo no ano de 2002. São eles que cuidam deste espaço onde santa Santa Dulce viveu por um curto período de tempo. Muitos são os turistas que visitam o conjunto do Carmo, formado pela Igreja do Carmo, Igreja da Ordem Terceira e Convento do Carmo.
Unida à devoção ao Senhor dos Passos, a devoção a Santa Dulce faz deste um lugar de oração e de encontro com o Senhor, de cujo coração jorra o amor, a misericórdia. Ele chama a todos os que dela bebem a serem caridosos, misericordiosos, a exemplo de Santa Dulce. Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!
Frei José Cláudio, O.C