UMA PARTILHA DA MISSÃO CARMELITANA NO AMAZONAS: COMEMORAÇÃO DO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DA BEATA MARIA TERESA SCRILLI
Frei Cristiano Garcia, O.Carm.
1- Um breve resumo sobre a vida da Beata Maria Teresa Scrilli
Maria Teresa Scrilli, nasceu em 15 de maio de 1825, em Montecarchi, na região da Toscana. Desde pequena sentiu o desejo de consagrar-se a Deus. Contra a vontade do seu pai, entra no Mosteiro Carmelita de clausura de Santa Maria dos Anjos, em Florença, mesmo mosteiro de Santa Madalena de Pazzi. Mas em pouco tempo se sente chamada a uma outra experiencia de vida religiosa dentro do carisma carmelitano: em uma vida de contemplação e missão. Do mosteiro carmelita saí convicta que o Senhor lhe chamava para ser uma carmelita “contemplativa em ação”.
O mundo passaria a ser seu maior campo de trabalho. A sua época exigia que a Igreja enfrentasse vários desafios, como o anticlericalismo, o ateísmo, a exploração dos trabalhadores, o analfabetismo, e a miséria crescente e a marginalização da mulher. Então, de sua própria casa, começa a ensinar um grupo de meninas que encontrava na rua. Nessa missão se unem algumas companheiras que compartilhavam o mesmo desejo de servir a Deus através do cuidado aos mais vulneráveis. Em 1852, aquele grupo de mulheres devotas vão criando corpo e decidem se institucionalizar como uma congregação religiosa. Isso acontece de fato, em 15 de outubro de 1854, e nasceu assim, o Pio Instituto de Caridade Irmãs do Coração de Maria, que eram terceiras de Santa Teresa, e que foram aprovadas pelo bispo de Fiésole. Em 1857, o papa Pio IX, abençoa o nascente Instituto.
Teresa Scrilli ainda iria passar pelo seu momento de maior provação. Em 30 de novembro de 1859, o Instituto das Irmãs é suprimido por ordem das tropas piamontesas que ocupam o convento das carmelitas. Todas as irmãs tiveram que se secularizar. Maria Teresa não desiste do seu ideal. Ela se refugia em Florença, onde em 1878 o arcebispo Eugenio Cecconi a permite reestruturar seu instituto, que foi restabelecido em 1892. Porém, muitas das irmãs já haviam se dispersado e todo o projeto de Scrili se ver ameaçado novamente a desaparecer. Porém, ela não desanima com as dificuldades e confia sua vida e o Instituto nas mãos de Deus com total abandono ao Senhor. Fica gravemente enferma e ver o instituto cada vez mais em uma situação desoladora com apenas 3 irmãs. Nesse contexto, morre a Madre Scrilli no dia 14 de novembro de 1889. Tudo parecia acabado, mas Teresa sempre repetia: “Se o grão de trigo não cai na terra e morre, não poderá dá fruto.” (Jo 12,24).
Milagrosamente, o Instituto volta a crescer sob a direção de Clementina Mosca, que foi uma das primeiras companheiras de Teresa Scrilli. Abriu-se novas casas, entraram novas irmãs e ampliou-se seu campo de trabalho em diversos lugares, até mesmo fora da Itália. Os trabalhos assumidos pelas irmãs eram diversos, desde o ensino, dos cuidados aos enfermos, aos anciãos etc. Em 1929, o Instituto foi reconhecido de direito Diocesano. Nesse mesmo ano, foi também filiado a Ordem do Carmo com o nome de Instituto de Nossa Senhora do Carmo, no governo do prior Geral Elías Magennis.
Em 1985, a Irmãs do Instituto chegam em Manaus e ali iniciam seu labor apostólico dedicando-se ao ensino, aos trabalhos sociais, assistência aos necessitados e trabalhos pastorais. Na Amazônia brasileira elas divulgam o carisma carmelitano e a vida e obra da Madre Teresa Scrilli. Em 2006, a Madre Teresa Scrilli foi beatificada graças ao primeiro milagre comprovado pela sua intercessão e que aconteceu na cidade de Manaus. Uma senhora que fazia parte de uma das comunidades assistidas pela pelas religiosas do Instituto, teve a graça da cura do câncer.
2- A missão em Borba
Dos dias 6 a 15 de maio tivemos a graça de realizar as missões carmelitanas na cidade de Borba e Manaus no Amazonas. A missão foi organizada pelas Irmãs do Instituto Nossa Senhora do Carmo, que celebram este ano de 2025, o bicentenário do nascimento de sua fundadora a Beata Madre Teresa Scrilli. O objetivo da nossa missão era divulgar o carisma carmelitano e a devoção a Beata Scrilli.
A missão começou no Município de Borba, que fica em torno de 208 km de Manaus. Iniciamos nossa viajem de lancha, que durou em torno de 7h até chegar ao nosso destino. A viajem foi marcada pela beleza da paisagem da floresta amazônica e no encontro dos rios Amazonas e Madeira. A equipe de missionários era formada por mim, a leiga missionária Ivone, que me acompanhava desde Recife, a Irmã Joice, a Irmã Mery e a aspirante Aline, do Instituo Nossa Senhora do Carmo.
Ao chegar na cidade, fomos recebidos pelo Padre Jair, reitor do Seminário e Chancerler da Diocese de Borba. Ele nos conduziu ao Seminário, onde fomos muito bem recebidos para iniciar a nossa missão. Em Borba nós visitamos algumas comunidades da Diocese, onde celebramos a Eucaristia, visitamos os enfermos e nos encontramos com membros de algumas pastorais. Ao nosso grupo de missionários se somaram os seminaristas do propedêutico Italo, Benedito e Maikiel. Também contamos com a colaboração do Padre Manuel, da Paróquia Cristo Rei, que nos acompanhou e alguns momentos nos mostrando um pouco sobre a realidade da diocese.
Além das comunidades que visitamos, tivemos a oportunidade de conhecer a Cúria Diocesana, onde fomos recebidos pelo bispo Dom Zenildo, que mostrou satisfação em nos acolher, dando as boas-vindas e nos disponibilizando os espaços diocesanos para que a missão acontecesse. Também tivemos a oportunidade de falar sobre o carisma carmelitano e da vida da Beata Madre Teresa Scrilli, além de anunciar sobre o objetivo da semana missionária em Borba na radio diocesana. Na Catedral também tivemos a acolhida do pároco Padre Joseph e do novo sacerdote indiano que estava iniciando sua missão ali, como vigário, o Padre Jostein. Ali, conhecemos um pouco sobre a história da cidade que cresceu em torno da Basílica e da devoção do seu padroeiro Santo Antônio. Podemos também compartilhar um momento com as irmãs beneditinas que há anos trabalham na diocese.
A nossa missão também contribuiu para as comunidades ribeirinhas, especificamente, a comunidade do Caiçara, que fica cerca de 2h do município. A lancha da diocese foi disponibilizada para irmos à comunidade. Ao chegarmos, fomos bem recebidos com um rico café da manhã. Logo, iniciamos as visitas as famílias, levando a benção e o conforto espiritual pela intercessão da Beata Teresa Scrilli, cuja relíquia nos acompanhava. Terminamos o dia com celebração da Eucaristia na capela da comunidade. Mesmo diante do desafio da falta de energia, do calor tropical e de uma noite mal dormida, não desanimamos diante dos obstáculos. Saímos cansados, porém, felizes de mais uma missão cumprida.
No sábado, dia 10 de maio, encerramos a missão nas comunidades com a Santa Missa na comunidade São Raimundo, seguida de um jantar compartilhado com a comunidade em comemoração ao dia das mães. No Domingo, a nossa atividade conclusiva foi com a celebração da Santa Missa na Basílica Catedral de Santo Antônio. Após o café, pegamos a lancha rumo a Manaus para dar continuidade a nossa missão. Nossa a gratidão a todos os que nos acolheram em Borba!
A experiencia missionária em Borba foi e gratificante e temos certeza de que o nosso objetivo de apresentar o carisma carmelitano e a vida da Beata Maria Teresa Scrilli foi cumprido. Esperemos no Senhor que essa experiência missionária possa dar frutos para a vida da comunidade da Diocese de Borba, como também de toda Ordem do Carmo e o Instituto das Irmãs de Nossa Senhora do Carmo.










3- A missão em Manaus
Ao voltarmos de Borba, fomos para a casa das Irmãs carmelitas em Manaus, no Bairro Zumbi. Ali passava a ser nosso lugar de apoio e agora, com a participação das outras irmãs que não haviam ido para a missão de Borba. A excepcional acolhida das nossas irmãs carmelitas, criava em nós um ambiente familiar. Em Manaus as nossas atividades missionárias ficaram centradas nas comunidades onde as irmãs assistiam em seus trabalhos pastorais.
Tivemos também um encontro formativo sobre a história da Ordem Carmelita, com os colaboradores e colaboradoras do Instituto Nossa Senhora do Carmo. Um momento de aprendizado e partilha, em que puderam compreender de onde surge o Instituto das Irmãs e da secular espiritualidade carmelitana a quem fazem parte as irmãs, fundadas pela Madre Teresa Scrilli.
No dia 12 de maio, celebramos a Eucaristia na comunidade Nossa Senhora de Guadalupe, pertencente a área missionária Santa Teresinha, que conta com a ajuda pastoral da Irmã Ivone. Foi uma bonita celebração com a participação da comunidade, membros das pastorais e das religiosas carmelitas. Após a missa, houve uma confraternização preparada pela comunidade para as irmãs.
No dia seguinte, 13, a Santa Missa foi celebrada na comunidade do Sagrado Coração de Jesus, no Coroado. Essa comunidade, foi o lugar de origem da Irmã Ivone e quem sabe será também de novas vocações para o Carmelo. A igreja estava cheia, houve homenagens as irmãs e, no final da celebração, tivemos a veneração da relíquia da Beata Teresa Scrilli.
Já no dia 14 de maio, tivemos a celebração da Eucaristia na casa das Irmãs do Bairro Zumbi, onde elas realizam projetos sociais e tem uma escola. A missa foi presidida pelo bispo auxiliar de Manaus, o franciscano Dom Samuel. O pátio da escola, contava com a presença de muitos fiéis, familiares dos alunos e pessoas que colaboram com o Instituto. Dom Samuel nos acolheu muito bem e fez uma bonita pregação valorizando o dom da vida religiosa para Igreja e alegria de celebrar bicentenário do nascimento da Madre Teresa Scrilli. No final, houve apresentações, quermesse e pudemos compartilhar o jantar com o bispo e alguns membros da comunidade, junto com as irmãs.
O último dia, 15 de maio, data da celebração dos duzentos anos de nascimento da beata, tivemos a Eucaristia de encerramento na Capela de São Francisco de Assis, comunidade assistidas pelas irmãs que residem na casa de São José e que foi berço vocacional da Irmã Joice. A missa foi celebrada de forma solene, com um bonito cenário com a imagem e a relíquia da beata Scrilli, além de uma apresentação da sua vida no final. Foi presidida por mim e concelebrada pelo Padre Marcelo, salesiano e vigário paroquial. Após a missa, tivemos o bolo compartilhado para toda a comunidade e em seguida um jantar preparado pelas irmãs na casa São José. Lá estavam presentes alguns membros das comunidades, e os padres salesianos que assumem a paróquia que fazem parte as religiosas.
Nas comunidades em que passamos, podemos compartilhar experiencia da vida carmelitana e fraterna, celebrar o sacramento da Reconciliação, celebrar a partilha da Palavra e da Eucaristia.
Mas a nossa missão não foi só trabalho! Tivemos momentos de lazer e passeios que foram proporcionados pelas irmãs. Conhecemos o centro de Manaus, teatro Amazonas, catedral, mercado central, porto, orla de Ponta Negra, Museu da Amazonia, parque florestal. Assim, nossa missão estava completa, por poder conhecer também essa região tão bela e importante para o nosso planeta que é a Amazônia brasileira, onde no passado trabalharam inúmeros carmelitas em missões, pelo Rio Negro e Solimões, e inclusive na própria cidade de Manaus, onde edificaram a primitiva Igreja, hoje catedral de Nossa Senhora da Conceição.
4- Frutos e sentimentos
Para mim, a missão no Amazonas me deixou marcas que permanecerão em minha vida religiosa e sacerdotal. Em primeiro lugar, porque foram os primeiros dias do meu ministério presbiteral: as primeiras Eucaristias, as primeiras Confissões, as primeiras Unção dos Enfermos. Jesus nos envia a missão e, por graça, foi na missão onde iniciei minha vida sacerdotal. Em segundo lugar, a missão no Amazonas gerou em mim, um sentimento de nostalgia de um passado que não vivi, mas estudei nos livros de história e nos arquivos da Ordem Carmelita: Um passado glorioso, das missões carmelitas no extremo Norte do Brasil, e que até hoje, deixou marcas no modo de ser religioso do povo amazonense e as várias devoções carmelitanas que sobreviveram ao tempo. Como historiador, fazer a evocação dessa história, conhecer e passar pelas mesmas terras que os missionários carmelitas passaram e trabalharam há séculos é, sem dúvida, um acontecimento inesquecível.
Por tanto, nosso sentimento, o meu e da missionária Ivone (que me acompanha), é de profunda gratidão a Deus, que nos proporcionou esse momento de encontro, de evangelização e de aprendizado. Nosso muito obrigado, as Irmãs do Instituto Nossa Senhora do Carmo (Ir. Joice, Ir. Mary, Ir. Ivone, Ir. Metty, Ir. Jessy, Ir. Judith, Ir. Elis e a aspirante Aline), a todos que nos acolheram durante esses dias, desde a diocese de Borba até as comunidades de Manaus. Esperamos, que a graça de Deus possa ter atuado com o nosso serviço, para que, como instrumentos do Senhor, passamos ter alcançado cos orações dos fiéis, suscitado vocações para o Instituto e para Ordem do Carmo, além de leigos comprometidos com a edificação do Reino de Deus.
Agora, unidos em oração, podemos caminhar juntos, construindo um mundo de paz e fraternidade, no caminho do Monte Carmelo, rumo ao encontro com Cristo Jesus. Damos graças a Deus por estes dias de missão e encontro com os irmãos e irmãs, sob a proteção maternal da Virgem do Carmo e a intercessão fraterna da Bem-aventurada Maria Teresa Scrilli.