A Virtude da Esperança
NO CORAÇÃO DO CARMELO 02/2025
Em nossa caminhada jubilar de 2025, em que somos chamados a cultivar em nossa mente e em nosso coração a virtude da esperança, trazemos uma reflexão do Pe. João Brenninger, O.C, retirada do seu Diretório Carmelitano de Vida Espiritual1, na qual ele parte de um trecho da Regra do Carmo para dizer o que é a virtude da esperança.

‘Cobri vossa cabeça com o elmo da salvação, de maneira a esperardes a salvação do único Salvador: será Ele que libertará o povo dos seus pecados’ (Regra do Carmo, 19).
Com estas palavras nos é recomendada a segunda virtude teologal, isto é, a esperança. (…) Esta é uma virtude sobrenatural e tem por objeto Deus. De fato, a esperança é aquela virtude infusa pela qual confiamos firmemente receber de Deus o seu eterno gozo e os meios necessários para consegui-lo, por causa das promessas que Ele mesmo nos fez.
O que, então esperamos? Esperamos a posse e o gozo do próprio Deus para sempre na vida eterna, já que este é o fim último para o qual fomos criados. ‘O prêmio que Deus nos dará é Ele mesmo’, diz Santo Agostinho. Só Deus é o nosso sumo bem e só nele o nosso coração pode saciar-se.
O caminho que leva à bem-aventurança eterna é realmente árduo e estreito. Todavia não devemos perder a esperança, mas crer firmemente que do próprio Deus, nosso criador, nos será dado tudo quanto é necessário para alcançarmos o fim. (…)
Por que esperamos? A fé nos ensina que sem a divina graça nada podemos sozinhos para alcançar a vida eterna. O próprio Jesus o declarou e São Paulo afirma: ‘Por nós mesmos, não somos capazes de pôr a nosso crédito qualquer coisa como vinda de nós; a nossa capacidade vem de Deus’ (2Cor 3,5). Não pode, pois a esperança fundar-se nem em nossos próprios méritos nem em nossa boa vontade, mas somente em Deus. Deus é onipotente e pode nos dar tudo. Ele é também a suma Bondade e Misericórdia e quer nos dar todo bem. Além disso, prometeu, pelo seu Filho Unigênito, que nos daria a vida eterna, e, para tal fim, sacrificou o seu próprio Filho para que, com sua paixão e morte, nós a recebêssemos.
Como então duvidar? Como perder a esperança? (..) Nem sequer nossos pecados são motivos de desesperação. Porque: ‘Juro por minha vida — oráculo do Senhor Deus — não tenho prazer na morte do ímpio, mas antes que ele mude de conduta e viva!’ (Ez 33,11). Verdade esta que o Senhor explicou e confirmou com as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo (cf. Lc 15,1-32).
É certo que jamais alcançaríamos a vida eterna, se o Pai não nos socorresse. Para que tenhamos firme confiança nesta ajuda e não desfaleçamos nem percamos o ânimo com as dificuldades, o Pai nos infunde a virtude da esperança, com a qual desejamos ferventemente o gozo da Pátria Celeste e firmemente confiamos que sua bondade e fidelidade nos dará, pelos méritos de Cristo Redentor, tudo quanto necessitamos para alcançá-la. Esta esperança clareia com sua luz as trevas desta vida, de modo que cheios de alegria podemos dizer com São Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me fortalece” (Fl 4,13). Desta maneira não estenderemos a mão ao fruto proibido nem nos apartaremos das coisas do alto.
A esperança, porém, não exclui totalmente o temor, já que somos pecadores e podemos recusar livremente a graça que nos é oferecida. Por isso São Paulo adverte: ‘Trabalhai pela vossa salvação com tremor e temor’ (Fl 2,12). Este saudável temor nos moverá a uma sincera penitência de nossos pecados, já que de outro modo não entraremos no Reino dos Céus (cf. Mt 4,17, Lc 5,32); como também nos levará a fazer de tudo para confirmarmos, por meio de boas obras, nossa vocação e eleição (cf 1Pd 1,10).
PARA REFLETIR:
1) O que é a virtude da esperança?
2) O que esperamos de Deus?
3) Em que se baseia a esperança?
4) Qual a relação entre esperança e temor de Deus?
- Directorio Carmelita de Vida Espiritual, Ed. Carmelitanas, 1966, Madrid, n. 29 e 110 ↩︎