O Escapulário e o profetismo
Chegamos ao mês de N. S. do Carmo, e trazemos uma reflexão de São Óscar Romero1, bispo, mártir, devoto e pregador da Mãe do Carmelo, para nos ajudar a viver a dimensão profética do nosso batismo. São Oscar Romero, rogai por nós!

No dia de Nossa Senhora do Carmo, eu gostaria de dedicar esta reflexão como uma homenagem a essa devoção do nosso povo, convidando todos vocês a contemplarmos em Maria o modelo de nossos compromissos cristãos.
O Concílio Vaticano II, no último capítulo da constituição sobre a Igreja (Lumen Gentium), dedicado à Virgem, fez esta bela observação: Maria é “saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade” (LG 53). Nós, que somos a Igreja, olhamos para Maria como o tipo (modelo), aquela pessoa na qual a Igreja realizou seus ideais.
Maria é o modelo, e o trabalho da Igreja se orienta a ela, para assemelhar-se a ela. Se cada católico, como membro da Igreja, se propusesse parecer-se com Maria, teríamos a Igreja sonhada, a Igreja ideal. Maria, sendo modelo da Igreja, realiza as atribuições, os deveres da Igreja no mundo.
O mesmo Concílio, dirigindo-se a vocês, os leigos, que não são sacerdotes nem religiosos; vocês casados; vocês, que estão no mundo; vocês, que formam a maior parte da Igreja, os batizados, ouçam o que diz o Concílio: “Cristo, o grande profeta, que pelo testemunho da vida e a força da palavra proclamou o reino do Pai, realiza a sua missão profética […] não só por meio da Hierarquia, que em Seu nome e com a Sua autoridade ensina, mas também por meio dos leigos; para isso os constituiu testemunhas, e lhes concedeu o sentido da fé e o dom da palavra (cfr. At 2, 17-18; Ap. 19,10) a fim de que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana, familiar e social” (LG 35).
Isso significa, pois, que assim como Maria é o protótipo da Igreja, cada secular, cada pai de família, cada homem, cada mulher teria que se capacitar para realizar no mundo como leigo, uma função profética; e para isso Cristo os dotou de fé – a fé tão grande que vocês têm – e lhes deu também o dom da palavra. A palavra simples do pai e da mãe de família que aconselha, do amigo, do esposo, toda ela amorosa… Se for revestida de senso de responsabilidade profética, como seria eficaz para o reino de Deus se essa palavra fosse implantada na família, no governo, no comércio, na economia!
Maria era uma “leiga”, esposa, uma mãe de família. Seu coração, cheio deste carisma profético absorvia as palavras do grande Profeta, Jesus Cristo, seu filho, para praticá-las com amor, fé, com a valentia e a inteireza que um leigo tem que ter para ser profeta no ambiente em que vive.
Ofereçamos, pois, a Maria, Nossa Senhora do Carmo, algo mais além de simplesmente revestirmo-nos do escapulário.
Se usamos o escapulário como uma convicção de nossa aliança com Maria, magnífico! Porém não nos revistamos dele como um passaporte pelo qual “aquele que morrer com ele vai se salvar”. Mentira! Quem não fizer a vontade do Pai, ainda que diga “Senhor, Senhor” não se salvará (cf. Mt 7,21). Maria me ensinará a ser profeta; e, então, sim, seu santo escapulário será um sinal de união, de meus compromissos, não tanto com ela, que também é “serva do Senhor” (Lc 1,38), mas com o Senhor.
Óscar Arnulfo Romero y Galdámez
P A R A R E F L E T I R :
(1) Uso o escapulário tendo consciência dos compromissos assumidos com Cristo, pelo batismo? Ou o uso buscando somente uma proteção?
(2) Busco, como filho(a) da Mãe do Carmelo, “modelo da Igreja”, imitá-la no anúncio de Cristo, Palavra do Pai, sendo profeta?
(3) “Maria me ensinará a ser profeta”. Peço a Maria que me ensine a praticar tudo o que Jesus ensina, “a fim de que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana, familiar e social”?
- Homilias Monseñor Óscar Romero, Tomo V, UCA editores, San Salvador,
Homilia do 15º. Domingo do Tempo Comum, 15.07.1979, p. 104s
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