O itinerário humano e espiritual do Profeta Elias
Por Fr. Bruno Augusto Viana, O.C1
O profeta Elias é para a Ordem do Carmo uma figura inspiradora. Seu testemunho é relevante para todo Carmelita que se põe no caminho de seguimento a Jesus Cristo. A experiência Eliana é uma senda pela qual vislumbram-se as mais diversas dimensões da vida de um profeta de Deus que, no seu tempo e no seu contexto, busca fazer a vontade do Senhor mesmo perante as suas fraquezas. O itinerário que Elias percorre passa pelo seu chamado profético, que é anunciar o Verdadeiro Deus de Israel e libertar o povo da escravidão do pecado, da idolatria. Mediante sua caminhada ele se depara com muitos desafios, dado que a vivência profética é uma realidade dura, áspera e por vezes complexa. É justamente no confronto consigo mesmo, suas fraquezas e limitações que Elias vai gradualmente vivendo o seu processo de maturação, humano e espiritual.
Elias é o homem de Deus, da Palavra, e sua missão está ligada significativamente dentro da história de Israel. Em seu caminho profético, sobretudo, no evento desafiador do Monte Carmelo, dois aspectos evidenciam um pouco dos sentimentos de Elias perante aquela situação, são eles: coragem e medo. No capítulo 18 do primeiro livro de Reis, o profeta Elias está no monte Carmelo, perante Israel, para o desafio entre o seu Deus e baal. O profeta diante desta situação demonstra forte confiança e coragem ao Deus a quem ele serve. Enquanto os profetas clamavam por Baal, Elias observava e por vezes falava comicamente. Após a ineficiência de baal acerca das súplicas dos seus profetas, Elias clama por Deus e do céu desce um fogo sobre o holocausto (Rs 18, 37-38). Ao fim do desafio, o Deus anunciado por Elias sai como vencedor e o profeta passa a espada os 450 profetas de baal (I Rs 18, 37-40). Após o ocorrido Elias é ameaçado de morte por Jezabel e isso mexe com a humanidade do profeta, alterando seus sentimentos, que vão da forte coragem para o medo, desembocando numa fuga para o deserto.
Destarte, Elias acorre para o deserto para conservar sua vida, no caminho ele senta-se debaixo de um junípero e, possivelmente esgotado, pede a morte. Após cair em sono profundo o Profeta é TOCADO por um anjo que o anima dizendo: “Levanta-te e come. A voz do anjo é sinal vivificador da presença de Deus, dado que Ele fornece não só o incentivo oral, “Levanta-te”, mas também o alimento físico, pão cozido, pois “a Palavra de Deus está preocupada com a totalidade da vida e não apenas com as coisas espirituais. O Divino dá forças a Elias que, mesmo caído mediante suas fraquezas, é convidado pelo anjo a retomar o caminho. Essa parte da vida do Profeta é muito significativa, pois é perceptível que a fuga para o deserto era um grito de medo das ameaças, contudo, o caminho que Deus preparou para ele ainda não tinha sido totalmente concretizado, como disse o anjo quando o visitou pela segunda vez: “Levanta-te e come, pois do contrário o caminho te será longo demais.” (I Reis 19, 8).
Elias, depois de toda essa situação, retomando seu caminho, vai em direção ao Horeb, o monte de Deus. As palavras do anjo o fortalecem e, mesmo com dificuldades de entender a voz de Deus, ele continua sua caminhada. Chegando na montanha, no local do encontro, da experiência, o tesbita entra numa gruta e é indagado por Deus da seguinte forma: “Que fazes aqui Elias”? (Rs 19, 9). Essa pergunta toca profundamente a existência do profeta, que prontamente responde falando do seu zelo pelo Senhor (Rs 19, 10). Deus pede a Elias que saia da gruta, e que fique na montanha diante Dele. É nesse momento que Elias viverá a experiência de sentir Deus. A dimensão espiritual do profeta está mesclada com a humana e as suas expectativas acerca da presença de Deus são frustrantes, “Elias encontra Deus, mas não do modo como ele esperava, nem do modo que toda sua tradição religiosa lhe havia ensinado”. (Joseph Chalmers, O.Carm.). Não será o sobrenatural ou o extraordinário, mas a simplicidade de Deus que visitará a existência do profeta. Diante de Elias passam muitos eventos naturais como o furacão, o terremoto e o fogo, mas a voz de Deus e sua presença estava no último evento, ou seja, na brisa suave, ou no “som do leve silêncio” (Joseph Chalmers, O.Carm). É nessa experiência humanizadora e espiritual que o profeta Elias redescobre o sentido de sua caminhada, retomando seu caminho.
O profeta Elias é a exemplificação daquilo que todo Carmelita deve ser no mundo, ou seja, um sinal de esperança, de luz, de libertação. A vida de Elias demonstra que Deus não desampara aqueles que se colocam no serviço de seu Reino. Mas isso não o isenta das adversidades da vida. Elias é o homem da Palavra, e sua vida se fundamenta nela. A inspiração Eliana é para os Carmelitas um acento interpelativo, dado que por vezes Deus também pergunta aos religiosos “o que fazeis aqui”? Assim como Elias, os Carmelitas de hoje experimentam na pele as amarguras do mundo, mas em contraposição, eles devem viver em obséquio de Jesus Cristo (RC 2). Viver em obséquio de Jesus Cristo é viver a Palavra, como dirá a regra do Carmo: “tudo o que tiverdes de fazer, fazei-o na Palavra do Senhor” (Rc 2). A experiência da Palavra, assim como aconteceu com o profeta Elias, é um itinerário que se dá no humano e espiritual do Homem que aceita entrar, como diz a RATIO CARMELITANA num “itinerário de transformação” (RIVC). Assim, é na inspiração de Elias que o Carmelita deve busca superar e perpassar suas fragilidades, e se colocando ao serviço do Reino crescer gradualmente através da Palavra que diviniza, mas que também humaniza o Homem.
Referências bibliográfica:
Bíblia de Jerusalém. 1 edição. São Paulo. Paulus. 2002.
Ratio Institutionis Vitae Carmelitanae
CHALMERS, Joseph. O Deus da Nossa Contemplação. Roma. 2004
Regra da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.
- Frei Bruno é estudante de filosofia da Província Carmelitana Pernambucana ↩︎